Neste dia 17 de julho comemoramos trinta anos da conquista do tetracampeonato da Copa do Mundo pela Seleção Brasileira de Futebol. Uma conquista memorável, não só pela importância e grandiosidade do título e da marca alcançada entre seleções, mas também por cada etapa superada e por toda a contestação sofrida pelo grupo desde os insucessos nas edições da Copa América de 91 e 93. Memorando campanhas anteriores, mesmo que com outros atletas e técnicos, a impaciência da torcida que esperava há 24 anos por mais um título, acostumada com três conquistas de Copas do Mundo em um curto período de tempo (58, 62 e 70), já se somava do dobro do tempo sem conquistas de Copas do Mundo e a conquista de apenas uma Copa América em 1989, onde a última tinha sio em 1949. O Brasil voltaria a vencer a Copa América em 1997.
Desde os amistosos preparatórios e durante as eliminatórias, o Brasil não fez boas apresentações, correndo assim o risco de ficar fora da Copa do Mundo pela primeira vez e assim, sofrendo uma grande pressão da torcida e de parte da imprensa esportiva que à época, já passava por uma transformação em sua forma de se posicionar quanto às suas opiniões e comentários emitidos. Uma grande parte da imprensa era saudosista e clamava pela convocação de atletas em fim de carreira, alegando que a experiência dos jogadores mais velhos não podia ser descartada. Outros já atendiam aos pedidos dos “generosos” empresários e cartolas. Com isso, muitos jogadores que eram convocados sofriam duras críticas sobre seu desempenho nos clubes e na seleção.
A seleção brasileira começou a preparação para a Copa com Paulo Roberto Falcão como treinador, sucedendo Sebastião Lazaroni após o fracasso na Copa de 1990. Falcão era o preferido da torcida para ocupar o cargo de técnico da Seleção, seguido por Telê Santana, conforme mostrou uma pesquisa feita pelo SBT. A escolha do novo técnico esteve entre o ex-meia, Zagallo, Carlos Alberto Parreira e Gérson. Com a demissão de Falcão em 91, Parreira assumiu o posto de técnico. Falcão revelou sofrer pressão nos bastidores da CBF para a convocação de alguns jogadores, mesmo sem estar em boa fase, alguns deles que atuavam no Rio de Janeiro, sede da CBF e reduto de Ricardo Teixeira.
Carlos Alberto Parreira enfrentou muitos problemas dentro e fora de campo, tendo como seu fiel escudeiro, o coordenador técnico Zagallo, que entre suas atribuições, cuidava da disciplina e segurava o ímpeto dos jogadores que já iniciavam suas crises de estrelismo, ato que atualmente mina a Seleção, onde os atletas se consideram maiores que a seleção e colocam seus interesses e busca pelos prêmios e reconhecimentos individuais à frente do coletivo.
União do grupo
No terceiro jogo, em Recife, a seleção vinha de dois insucessos: estreou com um empate sem gols fora de casa contra o Equador, seguido por uma derrota por 2-0 para a Bolívia, marcando a primeira derrota da seleção na história das Eliminatórias. Parreira estava decidido a pedir demissão e o presidente da CBF Ricardo Teixeira estava inclinado a substituir o técnico. Um dos nomes cogitados à época era o de Vanderlei Luxemburgo. Ainda durante o voo de volta ao Brasil, Ricardo Rocha, Muller, Taffarel, Dunga e outros atletas convenceram Parreira a permanecer e cobraram de Ricardo Teixeira que mantivessem o técnico no cargo.
Para o terceiro jogo, Dunga, contestado pela torcida pela atuação na Copa de 90 na Itália, foi reintegrado ao grupo. Marcante na campanha do Tetra, o gesto da Seleção em entrar em campo de mãos dadas surgiu em um momento difícil nas eliminatórias. Liderança da seleção, o capitão pernambucano Ricardo Rocha teve a ideia e daí por diante toda vez que a seleção entrava em campo, era dessa forma.
Em grande fase na Europa, mas nocivo ao grupo, o atleta que teria mais tarde (mas não o único) uma grande colaboração na conquista, Romário só veio a ser convocado no último jogo das eliminatórias contra o Uruguai no Maracanã. Insatisfeito por ter ficado na reserva em um amistoso contra a Alemanha em 92, Romário quase desestruturou o grupo, mas as lideranças da época tomaram a frente e respaldaram o técnico Parreira, dando suporte quando da não convocação do Romário nos jogos.
A grande verdade sobre a classificação para a Copa
Até hoje, muitas pessoas creditam a classificação do Brasil exclusivamente à presença do Romário no último jogo contra o Uruguai. Como dito um pouco acima, naquele tempo, a imprensa esportiva brasileira estava mudando a sua “forma de se posicionar quanto às suas opiniões e comentários emitidos.” Embora tenha sofrido uma derrota durante as eliminatórias, algo inédito até então e dois empates, a seleção não se classificou para a Copa apenas no último jogo. O Brasil estava no grupo 2 das eliminatórias, que tinha um formato diferente do atual em que todas as seleções se enfrentam. Foram cinco vitórias conquistadas pela equipe, porém, a pressão da imprensa esportiva e o suposto “clamor popular” pela convocação do Romário, perturbavam o ambiente, jogando a seleção e em especial o técnico Parreira contra a torcida. Nos bastidores, havia uma grande corrente pela contratação do Luxemburgo para a seleção, mesmo não figurando entre os preferidos da torcida.
Campanha do Brasil nas Eliminatórias.
Equador 0-0
Brasil (18 de julho de 1993)
Bolívia 2-0
Brasil (25 de julho de 1993)
Venezuela 1-5
Brasil (1 de agosto de 1993)
Uruguai 1-1 Brasil (15
de agosto de 1993)
Brasil 2-0
Equador (22 de agosto de 1993)
Brasil 6-0
Bolívia (29 de agosto de 1993)
Brasil 4-0
Venezuela (5 de setembro de 1993)
Brasil 2-0
Uruguai (19 de setembro de 1993)
Convocados para a Copa
Assista a coletiva de imprensa da convocação para a Copa de 94
https://www.youtube.com/watch?v=m2eD2U7T8wc
Convocação e os improváveis
A Seleção Brasileira na Copa de 94 teria uma formação bem diferente da que iniciou à final, não fossem as questões médicas. Considerada a base titular da defesa, Mozer contraiu Hepatite e Ricardo Gomes foi cortado após se lesionar no último amistoso preparatório para a Copa contra El Salvador, sofrendo uma ruptura muscular aos 21 minutos. Para o lugar de Mozer foi convocado Aldair e após o corte de Gomes, Ronaldão, assim apelidado por conta da presença do Ronaldinho que mais tarde seria “promovido” a Ronaldo. Ricardo Rocha se lesionou na estreia e só estaria apto a jogar, segundo o departamento médico, na eventual final. Rocha queria ir embora para a chegada de outro zagueiro, o que era permitido pelo regulamento, mas o grupo considerou que ele era muito importante para todos, convencendo a comissão técnica e o atleta a ficar. A convocação de Aldair na primeira lista era dada como certa por todos, devido à boa fase no Roma. Outro nome especulado para figurar na lista de convocados era César Sampaio, também em excelente fase no Palmeiras.
Durante a competição, Parreira decidiu pela troca de Raí por Mazinho, o que trouxe mais velocidade no meio campo da seleção. Após a cotovelada de Leonardo em Tab Ramos dos Estados Unidos nas oitavas de final, Branco entrou e foi até a final como titular, sendo o autor do gol decisivo contra a Holanda nas quartas de final. Na grande final contra a Itália, muita preocupação aos 20 minutos com a lesão de Jorginho que deu lugar a Cafu. O então camisa 14 levantaria a taça como titular e capitão em 2002.
Uma verdadeira seleção
A contestada Seleção tinha uma coisa em comum: o comprometimento com a equipe, com o futebol, com o Brasil e com o brasileiro. Outra característica era a união do grupo e a capacidade de resolver os problemas internos. As vaidades ficavam dentro do ônibus. Ao desembarcar para os jogos, o sentimento era de união e dedicação. Uma identidade diferente do que é percebido atualmente. A influência de empresários, imprensa e até mesmo de dirigentes não foi empecilho para que a seleção conseguisse seus objetivos, em detrimento a atender “pedidos” que certamente teriam minado a trajetória vencedora. Até a convocação de Romário teve o seu momento certo, quando se comprometeu com o grupo e com a comissão técnica que não repetiria, pelo menos durante a Copa, os erros recentes. Todos os atletas tiveram papel importante naquela conquista, mesmo aqueles que não participaram dos jogos.
A capa do jornal capixaba A Tribuna trouxe em sua capa a lista de convocados para a copa de 94 com suas respectivas fotos e os dizeres em destaque: “SELEÇÃO DE HOMENS”, exaltando todo o trajeto até a copa e mostrando o comprometimento de cada um deles com a Seleção. Algo que ia de encontro ao que a maioria da imprensa esportiva fazia, uma vez que as críticas vinham de enxurrada nos jornais impressos e nos programas e boletins esportivos na TV e no rádio.
A Seleção Brasileira de 94 não foi a última a ser campeã e também não foi, segundo os especialistas, a melhor em qualidade técnica, mas foi e continuará sendo um grande exemplo de dedicação e profissionalismo. O Esporte precisa de bons exemplos. As crianças se espelham em seus ídolos do esporte e esses têm que serem bons exemplos para que assim possam ser copiados esportivamente e em suas atitudes. E por falar em exemplo, a seleção dedicou o título a Airton Senna, grande ídolo do esporte brasileiro, outro grande exemplo de amor ao Brasil e ao esporte, símbolo de dedicação e constante busca por seus objetivos.
Assista a Final da Copa de 94
https://www.youtube.com/watch?v=hmbmN_F23YQ