O ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do presidente Lula, general Gonçalves Dias, que foi convidado a se demitir após o vazamento de imagens onde aparece tranquilamente com manifestantes que "invadiram" os prédios da Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro passado, terá que depor à Polícia Federal nesta sexta-feira (21). O depoimento foi marcado por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) que deu prazo de até 48 horas para a PF colher o depoimento do ex-ministro, a contar do dia 19 de abril.
As imagens haviam sido colocadas em sigilo pelo atual governo, mas foram vazadas para a Imprensa e abalaram as lideranças governistas do Congresso Nacional, que não conseguirão mais impedir a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar responsabilidades sobre os prejuízos causados ao patrimônio público com as depredações.
Dias terá de explicar aos agentes da PF o que aconteceu naquele dia, e por qual motivo não tentou impedir as depredações do prédio. Ele terá ainda de esclarecer as razões pelas quais ele e seus auxiliares aparecem nas imagens sem proteção usual em ocorrências de invasões e ameaças externas, como capacete, armas e máscaras antigás lacrimogêneo.
Atestado
Na quarta-feira passada, antes da demissão, o “general de confiança de Lula” esquivou-se de comparecer e de dar explicações à Câmara dos Deputados, enviando um atestado médico alegando “problemas de saúde”. Os parlamentares convidaram Dias para ouvi-lo, principalmente, sobre o porquê de o GSI ter negado acesso público às imagens internas do prédio, durante os atos de 8 de janeiro, sob o pretexto de serem imagens “sigilosas”.
Para o deputado de oposição Marcel Van Hatten (NOVO-RS), “está claríssima” a negligência ou talvez até a participação de membros do governo que colaboraram “por ação ou por omissão” para que a depredação dos prédios no dia 8 de janeiro fosse mais grave.
“Quando nós fizemos a solicitação das imagens e tivemos a solicitação negada pelo governo, temos agora a comprovação de que quando o governo colocou o sigilo sobre as imagens era porque ele não queria mostrar a parte que não lhe interessava, que era a ação do ministro do GSI colaborando para que o dano ao patrimônio público fosse muito maior do que se não tivesse agido daquela maneira”, afirmou Van Hatten.
Prejuízo evitável
Segundo Van Hatten, ao negar a divulgação das imagens, em fevereiro deste ano, o governo impediu a opinião pública de conhecer a verdade por inteiro: “Eu falo isso diante dos meios de comunicação, que na minha opinião também foram enormemente prejudicados, no momento em que o Palácio do Planalto mandou apenas uma parte das imagens para a imprensa”, observou.
“Agora, com essas imagens divulgadas, fica muito mais claro por que o governo não quer uma CPMI – por ação e omissão – nesse caso do ministro chefe do GSI e de outros membros do GSI. Houve uma colaboração para que o dano patrimônio público fosse maior”, acusou.
Quem é Gonçalves Dias
General da Reserva do Exército, Gonçalves Dias cuidou pessoalmente da segurança de Lula nos dois primeiros mandatos do atual presidente. Por ser considerado “homem de confiança” de Lula, foi nomeado por ele como ministro-chefe do Gabinete da Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.
O GSI tem como principal atividade auxiliar diretamente o presidente no desempenho de questões militares e de segurança.
Perguntas sem resposta
Vazamento seletivo de imagens: As imagens foram colocadas sob sigilo pela Presidência da República, mas parte delas foi inicialmente divulgada pelo GSI, aparentemente as imagens que interessavam ao governo. Depois, o material foi encaminhado ao STF. Por que o governo divulgou algumas imagens e colocou outras em sigilo? E quem vazou esta outra parte, para ser divulgada pela Imprensa? Quais outras partes ainda estão escondidas, no inquérito dirigido pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes?
Mascarados e não-mascarados : As imagens vazadas para a imprensa mostram que manifestantes mascarados no interior dos prédios não interagem com os manifestantes que estavam sem máscaras (e vice-versa). São grupos distintos, bolsonaristas e petistas? Haveria infiltrados apoiadores do atual governo entre os manifestantes da oposição? Quem realmente, individualmente, provocou a depredação?
Prisões seletivas ou coincidência: Por que alguns suspeitos de omissão foram ou ainda estão presos, e outros, ligados ao atual governo, agora que estão sendo chamados a depor? Qual a diferença de eventuais omissões de membros do governo passado, do atual governo e de membros do Governo do Distrito Federal?
Confraternização: Por que o então ministro do GSI e outros servidores aparecem nas imagens praticamente confraternizando com os manifestantes que, a priori, não tinham autorização para estar no interior do Palácio do Planalto? Por que nenhum dos seguranças estavam com capacete e outros instrumentos de proteção, que são habitualmente usados em casos de invasão de prédios públicos?